Brasil precisa renovar na análise de crédito: pandemia dá ensejo à mudança de perspectiva
A pandemia vai tornar necessário que as instituições financeiras repensem a forma como fazem a análise de crédito, principalmente em um país como o Brasil, com uma das crises mais severas de covid-19. Na visão do especialista em economia comportamental Dan Ariely, professor da Universidade de Duke, nos EUA, o crédito tem um papel fundamental para a recuperação das economias no médio e longo prazo e os bancos, fundamentalmente, se mantêm presos a sistemas ultrapassados na hora de avaliar a capacidade de pagamento de pessoas e empresas.
Em entrevista ao Valor, Ariely, que é autor de livros como “Previsivelmente Irracional” e “A Psicologia do Dinheiro”, junto com o amigo e colaborador Saul Fine, professor da Universidade de Haifa, em Israel, e PhD em psicologia, criticaram o sistema atual de avaliação de perfil de bom pagador das instituições, que se baseia em um histórico. Após a pandemia e a crise econômica que paralisou setores inteiros, a fórmula não funciona mais, argumentam os especialistas.
Ariley e Fine desenvolveram juntos um novo modelo de previsão de capacidade de pagamento de dívidas sob o ponto de vista psicológico. Esse sistema já tem sido utilizado em forma piloto por algumas fintechs brasileiras para incluir desbancarizados.
“Como forma de sair da [crise da] covid-19 com razoável estabilidade econômica, o Brasil tem de descobrir uma forma de conceder mais crédito”, diz Ariely. “E o crédito tem de ir aos pequenos negócios, os motores do crescimento.”
Conforme o pesquisador, as mudanças drásticas causadas pela pandemia tornam falho o uso de dados passados na previsão do comportamento futuro do tomador. Segundo Ariely, as análises de risco atuais vão excluir o acesso ao crédito aqueles que mais precisam, ou seja, grande parte dos pequenos e médios empreendedores afetados diretamente pela pandemia.
Fonte: Valor Econômico.
Publicação: 11/05/2021.